CRISE DA HISTÓRIA PARA QUEM? A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA NEGRA E AS OUTRAS POSSIBILIDADES DE LEITURAS DO TEMPO
CRISIS OF HISTORY FOR WHOM? BLACK HISTORIOGRAPHICAL PRODUCTION AND OTHER POSSIBILITIES FOR READING TIME
Resumo
O artigo analisa a chamada “crise da História” a partir da teoria do presentismo, de François Hartog, questionando sua suposta universalidade e argumentando que tal crise se refere, prioritariamente, ao esgotamento do modelo historiográfico eurocêntrico. Em diálogo com autores como Koselleck, Le Goff, Quijano e Mignolo, sustenta-se que a História, enquanto disciplina moderna, foi edificada sobre uma base colonial, elitistas e racializadas, responsáveis por marginalizar as experiências e memórias de povos negros e indígenas. Ao examinar as chamadas palavras-mestras, especialmente “memória” e “patrimônio”, o texto evidencia como esses conceitos se entrelaçam, marcando o afastamento das grandes narrativas e apontando para novas disputas em torno da construção do passado. Nesse contexto, destaca-se que os documentos coloniais não constituem registros neutros, mas sim monumentos do poder hegemônico que contribuíram para o silenciamento e a desumanização dos sujeitos negros. Como contraponto a essa lógica, o estudo valoriza a produção historiográfica de intelectuais negros, com ênfase na obra de Beatriz Nascimento, como forma de resistência epistêmica e ruptura com as narrativas coloniais. Conclui-se que a crise da História não deve ser compreendida como um fenômeno universal, mas como o colapso de um modelo excludente de escrita histórica. A emergência de perspectivas decoloniais e negras abre caminho para uma historiografia plural, crítica e comprometida com a reparação dos silenciamentos do passado.
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