DESIGUALDADES DE GÊNERO NA CIÊNCIA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE INTERSECCIONAL DA DISTRIBUIÇÃO DAS BOLSAS DE PESQUISA DO CNPq (2005-2023)
GENDER INEQUALITIES IN BRAZILIAN SCIENCE: AN INTERSECTIONAL ANALYSIS OF CNPq RESEARCH GRANTS (2005-2023)
Resumo
Este artigo é parte das atividades em desenvolvimento no Observatório Sul-Sudeste do Projeto: INCT/CNPq Caleidoscópio: Instituto de Estudos Avançados em Iniquidades, Desigualdades e Violências de Gênero e Sexualidade e suas Múltiplas Insurgências (12/2022- 11/2027). Entre os objetivos gerais do INCT-Caleidoscópio cabe ao Observatório Sul-Sudeste o monitoramento de indicadores e a elaboração de análises sobre as desigualdades sociais, raciais e violências de gênero e sexualidade, que impactam as trajetórias, as condições materiais e o ambiente profissional das mulheres nas carreiras científicas e acadêmicas. Nos interessa compreender a persistência dessas desigualdades de gênero na história da vida acadêmica, ampliando nossa visão sobre as categorias prevalentes nos perfis coletivos, bem como a caracterização do que se entende por "trajetórias exemplares".
Nesse sentido o presente artigo estabelece algumas relações iniciais sobre a participação das mulheres em bolsas de pesquisa em diferentes modalidades no país, considerando suas intersecções com outros marcadores sociais de diferença, como cor/raça, bem como dimensões regionais e de áreas do conhecimento. Para tal foram analisados dados desagregados do Painel de Fomento em Ciência, Tecnologia e Inovação do CNPq sobre a situação histórica e atual (2005-2023) da participação das mulheres e homens em diferentes áreas do conhecimento.
A inovação do trabalho reside na análise interseccional do perfil dos bolsistas nas principais modalidades de bolsas de pesquisa em dois momentos distintos (2005 e 2023, primeiro e último ano completo disponibilizado pela base do CNPq), a partir do uso do software de Análise Interseccional de Perfil – AIP (Feltrin et al, 2021) adaptado para as análises empreendidas no âmbito do Observatório Sul-Sudeste. Tal metodologia busca captar a complexidade do universo analisado, não se limitando a questões como “quantas mulheres” receberam bolsas de pesquisa, mas qualificando esse grupo “mulheres”, visto que elas não formam um grupo homogêneo. Assim, os diferentes marcadores sociais que atravessam essas “mulheres” são determinantes para sua trajetória na academia, influenciando na sua entrada, permanência e ascensão na carreira.
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