Circulação de crenças e saberes mágico-religiosos no mundo luso-africano do século XVI: os processos inquisitoriais de Catarina de Faria e Mônica Fernandes

  • Marcus Vinicius Reis Doutorando em História - PPGHIS/UFMG

Resumo

Partindo do século XVI como recorte temporal de análise, propomos resgatar as trajetórias de Catarina de Faria e de Mônica Fernandes, tomando por base os seus processos inquisitoriais estabelecidos no âmbito do Tribunal do Santo Ofício de Lisboa. O delito da feitiçaria sustentou as investigações e os respectivos processos. Buscaremos, assim, analisar as crenças e práticas referentes ao universo mágico-religioso como importante ferramenta que ligou mundos e espaços distintos a partir do Atlântico. De Lisboa a Safim, de São Jorge da Mina a Lisboa, as especificidades dos locais e dos indivíduos foram observadas a partir de um movimento maior de trânsitos culturais voltados ao sobrenatural.


Palavras-chave: Inquisição portuguesa; Práticas mágico-religiosas; História Atlântica.

Biografia do Autor

Marcus Vinicius Reis, Doutorando em História - PPGHIS/UFMG
Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal de Minas Gerais e bolsista pela CAPES. Possui Mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ/FFP). Possui Graduação (Licenciatura e Bacharelado) em História pela Universidade Federal de Viçosa (2011). Pertenceu ao Conselho Editorial da Revista Temporalidades, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em História da UFMG. Também foi bolsista do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior, através da Universidade de Lisboa. Por fim, atua como pesquisador nas seguintes áreas temáticas: Tribunal do Santo Ofício português na Época Moderna; Práticas mágico-religiosas no mundo português da Época Moderna; Gênero e religiosidade; História e Patrimônio.

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Publicado
2018-12-04