OS MORTOS QUE AQUI JAZEM AINDA ESTÃO VIVOS: LEPROSÁRIO, MEMÓRIA E HISTÓRIA ATRAVÉS DO CEMITÉRIO SANTO ALBERTO
THE DEAD WHO LYE HERE ARE STILL ALIVE: LEPROSARIA, MEMORY AND HISTORY THROUGH SANTO ALBERTO CEMETERY
Resumo
Este artigo aborda os processos históricos envolvidos na formação do Cemitério Santo Alberto, situado na zona leste da cidade de Manaus, no bairro Colônia Antônio Aleixo, antigo Leprosário Colônia Antônio Aleixo. A provável origem deste cemitério remonta ao ano de 1918, quando a cidade vivenciou significativas reformas urbanas, financiadas pela economia da borracha (final do século XIX e início do século XX). Tais reformas, pautadas nos ideais de higiene e salubridade da época, modificaram as formas de se relacionar com o espaço. As necrópoles passaram a ser construídas em lugares distantes da área central, pois eram consideradas veículos de miasmas. No caso do cemitério Santo Alberto, é provável que tenha surgido como alternativa para receber os mortos hansenianos, visto que, a longa distância favorecia a estratégia de manter afastadas as chances de contaminação pela lepra, como era denominada a hanseníase, uma doença muito temida naquele momento. Quanto à metodologia, a pesquisa é qualitativa, exploratória, e descritiva. No que se refere aos tipos/meios, é bibliográfica, documental e de campo. O recorte temporal compreente o período de 1918 a 1978, abarcando desde o surgimento do Cemitério Santo Alberto até a transformação do antigo Leprosário Colônia Antônio Aleixo em bairro. A pesquisa utlizou como base os estudos de Foucault (2021), Giddens (1991), Halbwachs (1990), Pierre Nora (1993), Mesquita (2006), Martins (2021) e Ribeiro (2011), buscando compreender as relações entre higienismo, exclusão, doença, memória e espaços cemiteriais no contexto da cidade de Manaus.
Referências
FONTES
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