RELAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADES NA AMAZÔNIA COLONIAL DURANTE A ATUAÇÃO DO SANTO OFÍCIO PORTUGUÊS (1763-1769)

GENDER RELATIONS AND SEXUALITIES IN COLONIAL AMAZONIA DURING THE OPERATION OF THE PORTUGUESE HOLY OFFICE (1763–1769)

Palavras-chave: Inquisição portuguesa, Amazônia colonial, Sexualidades

Resumo

Este artigo analisa as múltiplas formas de expressão da sexualidade na Amazônia Colonial durante a última visitação do Tribunal do Santo Ofício Português, ocorrida entre 1763 e 1769, sob a liderança do visitador Giraldo José de Abranches. A partir das confissões e denúncias registradas no “Livro da Visitação do Santo Ofício”, o estudo analisa especialmente os delitos da bigamia e sodomia. Ao contextualizar a presença inquisitorial na região amazônica no âmbito do projeto pombalino de normatização social, o trabalho discute as construções de gênero e os dispositivos de controle dos corpos coloniais, com destaque para as tensões entre normas religiosas e práticas sociais cotidianas. A análise revela a pluralidade dos discursos sobre o homoerotismo e a sexualidade indígena, evidenciando as resistências e os silenciamentos impostos pelas estruturas coloniais e religiosas do período.

Biografia do Autor

Marcus Reis, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará

Professor Adjunto da Faculdade de História da Unifesspa, atua também como docente e coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da instituição. Doutor em História pela UFMG, com estágio sanduíche na Universidade de Lisboa. Coordena o Núcleo de Estudos Inquisitoriais na Amazônia (NEIAM) e a rede Judicium. Suas pesquisas se concentram no Tribunal do Santo Ofício, práticas mágico-religiosas, gênero, religiosidade, história e patrimônio. E-mail: marcus.reis@unifesspa.edu.br

Gislaine Ribeiro Rodrigues, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará

Mestranda em História pelo PPGHIST/Unifesspa. Graduada em História pela Unifesspa, atuou em projetos de monitoria e PIBID. Foi educadora museal no Museu Municipal Francisco Coelho (2021–2022) e integra o Núcleo de Estudos Inquisitoriais na Amazônia (NEIAM) e a Rede Judicium, ambos coordenados pelo prof. Dr. Marcus Vinicius Reis.

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FONTES

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Publicado
2025-12-09