TRAVESTILIDADES E DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA (1964-1985): HISTÓRIA, INVISIBILIDADES E AS SEXUALIDADES CONSIDERADAS DISSIDENTES
“TRANSVESTIBILITY” AND THE BRAZILIAN CIVIL-MILITARY DICTATORSHIP (1964-1985): HISTORY, INVISIBILITIES AND DISSIDENT SEXUALITIES
Resumo
Este trabalho propõe uma discussão sobre travestilidades e suas interfaces com a ditadura civil-militar brasileira. Reconhecer que as travestilidades possuem uma história é algo que identifica as travestis enquanto sujeitas históricas que interagem a todo tempo com o cenário social ao qual estão inseridas. Produzir narrativas em torno dessas identidades implica em um esforço epistemológico em direção à identificação das fontes e às indagações, ante os silêncios, indiferenças e ausências da História. Por meio de fontes audiovisuais, é possível inquirir os silêncios acerca das travestilidades em interface com o cenário autoritário vivenciado no Brasil e fazer emergir outras possibilidades nesse processo por visibilidade e disputa por memórias e narrativas. A ideia de uma suposta decadência moral e social e a compreensão em torno do combate por vias morais e sexuais fez com que as sexualidades localizadas dentro das dissidências normativas se tornassem alvo de práticas violentas de encarceramento e eliminação, que filiadas à perspectivas higienizadoras buscaram “limpar” dos espaços urbanos aqueles e aquelas que “poluíam” e “corrompiam” a duvidosa coerência e homogeneidade dos espaços normativos. Marcas de classe e raça, nesses termos, atenuaram e potencializam a abjeção a esses corpos. É fundamental que a história seja compreendida como fruto de disputas e processos interpretativos que, condicionados por dispositivos de poder, pode desconstruir e nobilitar as histórias sobre o período ditatorial, tão marcado pela presença masculina, trazendo à baila outras perspectivas miradas a partir de narrativas dissidentes.
Referências
COLLING, Ana Maria. As mulheres e a ditadura militar no Brasil. História em revista. v. 10, Pelotas: RS, 2004, p. 1-10.
GÓES, Fred. Teatro Rival: resistência e sensibilidade. 1. ed. – Rio de Janeiro: Língua Geral, 2018.
GUTFREIND, Cristiane Freitas. Os filmes da ditadura civil-militar brasileira e o realismo político. In: MORETTIN, Eduardo; NAPOLITANO, Marcos (Orgs.). O cinema e as ditaduras militares: contextos, memórias e representações audiovisuais. São Paulo: Intermeios: Fapesp; Porto Alegre: Famecos, 2018, p. 155-166.
LOPES, Fábio Henrique; DUARTE, M. A emergência da primeira geração de travestis no Brasil, na década de 1960. Territórios e Fronteiras (UFMT. Online), v. 14, p. 151-177, 2021.
_______. Visibilidades da experiência trans! Corpos, idades e imagens. SocioPoética, v. 1, n. 17, Jun./dez. 2016, p. 1-22.
MORETTIN, Eduardo. O cinema brasileiro e os filmes históricos no regime militar: o lugar do historiador. In: MORETTIN, Eduardo; NAPOLITANO, Marcos (Orgs.). O cinema e as ditaduras militares: contextos, memórias e representações audiovisuais. São Paulo: Intermeios: Fapesp; Porto Alegre: Famecos, 2018.
NAPOLITANO, Marcos; SELIPRANDY, Fernando. O cinema e a construção da memória sobre o regime militar brasileiro: uma leitura de Paula, a história de uma subversiva (Francisco Ramalho Jr., 1979). In: MORETTIN, Eduardo; NAPOLITANO, Marcos (Orgs.). O cinema e as ditaduras militares: contextos, memórias e representações audiovisuais. São Paulo: Intermeios: Fapesp; Porto Alegre: Famecos, 2018, p. 77-100.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. 6ª. ed. Campinas: Papirus, 2016.
OCANHA, Rafael Freitas. “Amor, feijão, abaixo camburão” - Imprensa, violência e trottoir em São Paulo (1979-1983). Dissertação (Mestrado em História), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2014.
_______. Repressão policial aos LGBTs em São Paulo na ditadura civil militar e a resistência dos movimentos articulados. In: GREEN, James Naylor; QUINALHA, Renan; CAETANO, Marcio; FERNANDES, Marisa (Orgs.). História do Movimento LGBT no Brasil. São Paula: Alameda, 2018.
PERROT, Michele. Escrever uma história de mulheres: relato de uma experiência. In: Cadernos Pagu (4) 1995: p 9-28.
QUINALHA, Renan Honório. Uma ditadura hetero-militar: notas sobre a política sexual do regime autoritário brasileiro. In: GREEN, James N.; QUINALHA, Renan; CAETANO, Marcio; FERNANDES, Marisa. (orgs). História do Movimento LGBT no Brasil. 1. ed. São Paulo: Alameda, 2018. p. 15 – 38.
_______. Conta a moral e os bons costumes: a política sexual da ditadura brasileira (1964-1988). Tese (Doutorado em Relações Internacionais), Universidade de São Paulo, 2017.
SILVA, Natanael de Freitas. Ditadura civil-militar no Brasil e a ordem de gênero: masculinidade e feminilidades vigiadas. Mosaico, v. 7, n. 11, 2016, p. 64-83.
TOMAIM, Cássio dos Santos. O documentário e sua “intencionalidade histórica”. DocOn-line, n. 15, dezembro 2013, www.doc.ubi.pt, pp. 11-31.
FONTES
Divinas Divas. Direção de Leandra Leal. Rio de Janeiro: Daza Filmes, 2017 (109 min.).
LIMA, Anyky. LGBT+ 60: Corpos que resistem. Colabora - Jornalismo Sustentável. Publicado em 17 de outubro de 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tFa4r0CSy3k
MARTINHA. LGBT+ 60: Corpos que resistem. Colabora - Jornalismo Sustentável. Publicado em 17 de outubro de 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zM9ATZUsOZg
Declaro que, caso este manuscrito seja aceito, concordo que mantenho os direitos autorais e concedo à Revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons (CC-BY) que permite o compartilhamento com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista. <a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/"><img alt="Licença Creative Commons" style="border-width:0" src="https://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png" /></a><br />Este obra está licenciado com uma Licença <a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/">Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional</a>.