ABORDAGENS, LIMITES E POSSIBILIDADES NO USO DE RELATOS DE VIAGEM COMO FONTE HISTORIOGRÁFICA: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA HISTORIOGRAFIA AFRICANISTA

APPROACHES, LIMITS AND POSSIBILITIES IN THE USE OF TRAVEL ACCOUNTS AS A HISTORIOGRAPHICAL SOURCE: CONSIDERATIONS FROM AFRICANIST HISTORIOGRAPHY

Palavras-chave: relatos de viagem; viajantes europeus; fontes historiográficas

Resumo

Os relatos europeus de viagem constituem uma das mais clássicas tipologias de fontes para a historiografia, destacando-se também em trabalhos de sociologia, antropologia e economia. Neste artigo, pretendemos delinear as principais abordagens aos relatos de viajantes, demarcando, em particular, as contribuições recentes da historiografia africanista. Assim, foi possível observar que, até a década de 1970, os viajantes, considerados testemunhas oculares, tiveram seus registros tomados sem grandes cuidados metodológicos. Encarados como testemunhos privilegiados e objetivos, foram recorrentemente utilizados para obter informações do cotidiano e dos mais variados aspectos das sociedades que registraram, como relações sociais, práticas culturais e demografia. Entretanto, a partir da década de 1970, aportes teórico-metodológicos específicos têm sido desenvolvidos, buscando analisar os relatos europeus de modo crítico, levando em conta filtros culturais dos viajantes, sua subjetividade e convenções literárias na composição dos textos. Mais recentemente, historiadores do campo da história da África têm mobilizado os relatos de viagem como fontes centrais de suas pesquisas, aliando a crítica do discurso colonial à análise das agências africanas no contexto da expansão imperialista europeia no continente africano, a partir do final do século XIX.

Biografia do Autor

Fernando Henrique de Almeida Lima, Universidade Federal Fluminense

Mestre em História pela Universidade Federal Fluminense (PPGH/UFF, 2021). Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2017). Tem como principais interesses as relações entre africanos e portugueses no final do século XIX, através das narrativas de viagem sobre a África Central.

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Publicado
2024-12-13