UM PESQUISAR INFANTE: PRIMEIRAS LINHAS

  • Vivian Nantes Muniz Franco Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Resumo

Com este texto, intenciono apresentar as primeiras movimentações e inquietações da pesquisa que estou desenvolvendo no doutorado, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Nesta pesquisa, ainda em estágio inicial, pretendemos lançar nossos sentidos para os processos de escolarização, a fim de problematizar movimentos de subversões e resistências da infância frente aos silenciamentos e colonizações que crianças de 4 e 5 anos de idade sofrem no espaço escolar da Educação Infantil. Para isso, pretendo, enquanto pesquisadora, ocupar esse espaço escolar em uma interação entre escola, crianças e professores, participando, convivendo e produzindo narrativas em uma perspectiva que as tome por diferentes formas, ou ainda, estar com as crianças, ocupar seus espaços, e ali olhar, junto a outros modos de sentir, para o que elas produzem, subversões, resistências, estereótipos, matemáticas, imagens, vídeos e outros encontros, cercando-se pela pergunta: O que produzem as infâncias?

Pensando em teorias como possiblidades, como discussões que nos ajudam a dialogar com a pesquisa, com os objetivos, com as perguntas, com as práticas da pesquisa, com meus movimentos de formação pessoal, esta pesquisa buscará ampliar e praticar os estudos acerca da descolonialidade e pensamento liminar (MIGNOLO, 2008, 2017; SILVA, 2013) esforçando-se para trabalhar com escolhas teóricas e metodológicas sensíveis e coerentes com o processo de uma pesquisa com crianças e intenções descolonizadoras. Além disso, pensar com outros a escola, a infância (KOHAN, 2003, 2004; LEITE, 2011, 2016; CHISTÉ, 2015; BARROS, 2013), a narrativa (BENJAMIN, 1994; FERNANDES, 2014; FERRITO, 2014; SOUZA, 2014), a pesquisa, aproximando-se também de discussões filosóficas que contribuam para nossas intenções infantes de pesquisar. São ainda os primeiros encontros, as primeiras linhas.

Dessa forma, optamos por pensar metodologicamente, em um movimento difícil de fazer antecipações, por compor narrativas junto aos registros que serão produzidos pela pesquisadora nos períodos que estiver na escola, que envolverão anotações, vídeos, áudios, fotos, desenhos, dentre outras modalidades que podem ser adotadas no decorrer da pesquisa. Assim, nos propomos um pesquisar infante, na direção de uma pesquisa que se componha tal como os desarranjos da infância e seus modos interrogantes e curiosos de ver o mundo, permitindo-se encontros e desencontros inesperados, em uma perspectiva de sensibilidade metodológica (SOUZA E CURY, 2015).

Espera-se que essas discussões e problematizações que o trabalho pode trazer, contribuam para repensarmos o modo como nós, professores, escola, Educação Matemática e sociedade, nos relacionamos e tratamos a infância. O que tudo isso produz em mim? E na Educação Matemática? Como isso tudo produz em mim? E na Educação Matemática? O quê e como eu escolho dizer neste/deste pesquisar infante?

Biografia do Autor

Vivian Nantes Muniz Franco, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Doutoranda em Educação Matemática do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Referências

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BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: ______. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura – Obras escolhidas I. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 197-221.

CHISTÉ, Bianca Santos. Devir - criança da matemática: experiências educativas infantis imagéticas. 2015. 106 p. Tese de Doutorado - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro, 2015.

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Publicado
2019-09-15