A[S] GEOMETRIA[S] ENSINADA[S] NO BRASIL NO SÉCULO XX

  • Marizete Nink de Carvalho Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
  • Thiago Pedro Pinto Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Resumo

O presente trabalho objetiva apresentar algumas intenções de uma pesquisa de doutorado, na qual pretende-se olhar para a[s] geometria[s] ensinada[s] no século passado no Brasil. Esta pesquisa integra-se ao projeto Práticas sociais, [M]matemáticas e Escola: entre Perspectivas Decoloniais e Terapêuticas Desconstrucionistas que propõe problematizar os discursos sobre uma matemática única e universal, operando com os outros modos de pensar sobre práticas matemáticas distintas, localmente situadas, e relacionado-as com as formas de vidas que as praticam. Portanto, inicialmente faremos uma pesquisa histórica no sentido de evidenciar os principais movimentos educacionais ocorridos nesse período, que de alguma forma tenham influenciado o ensino da Matemática, deste modo, elegeremos livros didáticos que sejam significativos de cada movimento. Ao passo que escolhidos os referidos materiais, realizaremos uma terapia gramatical desconstrucionista, inspirado na filosofia de Ludwig Wittgenstein e Jaques Derrida, de certa forma comparando-os, porém não com a intenção de classificá-los ou hierarquizá-los, mas sim numa tentativa de elucidar semelhanças e dessemelhanças nos jogos de linguagem neles praticados. Miguel (2015a, p. 626) afirma que “Para uma perspectiva terapêutico-gramatical desconstrucionista, ter uma questão ou um problema bem definido e constituir um arquivo cultural de partida que permita iniciar tal investigação são as condições necessárias para se conduzi-la.” Ainda sobre essa perspectiva, Miguel (2015a, p. 629) acredita que ela “sugere um modo não analítico de se lidar com os jogos de linguagem do arquivo cultural relativo a investigação.” Nosso intento se alicerça também sobre o trabalho de Vilela (2013), no qual, após a constatação de diversas adjetivações dadas a matemática, frequentemente utilizadas em trabalhos no campo da Educação Matemática, a autora sugere uma mudança para o uso da palavra “matemática”, não mais convergindo para um sentido único, singular, mas sim para uma pluralidade de sentidos, intrinsicamente relacionados aos jogos de linguagem e as formas de vida a eles correspondentes. É a partir desse pressuposto que nos colocamos em um movimento de pensar a geometria como uma atividade humana praticada nos livros didáticos, que (acreditamos) possui significados diversos, decorrentes das diferentes formas de vida situadas em cada contexto histórico e movimento filosófico e epistemológico que tanto a matemática quando a educação passaram. As geometrias são assim atravessadas por fatores conjunturais, social – ético – político – cultural – educacional – econômico... Diferentemente de Vilela que olha para as formas de vidas em atividades humanas diversas, o que nos move é o sentido de olhar para a mesma atividade humana – o ensino de matemática – e suas transformações sofridas durante o século passado, entrecortada por momentos históricos (excludentes, transformadores, separatistas...). Diante disso, se pudermos afirmar que foram forjados diferentes (ainda que preservem algumas semelhanças) modos de perceber e difundir o ensino de geometria, ao elucidar os jogos de linguagem ali praticados, de sorte nos ocorre alguns questionamentos: será que tais diferenças acontecem apenas por conveniência didática? Ou o que temos são, em certo sentido, diferentes geometrias? Para além de obter respostas, o que pretendemos é construir uma visão panorâmica do conjunto de jogos de linguagem conectados legitimamente por semelhanças de famílias nestas práticas humanas.

Biografia do Autor

Marizete Nink de Carvalho, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Doutoranda em Educação Matemática pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. É graduada em Licenciatura Plena em Matemática pela Universidade Federal de Rondônia (2009) e Mestre em Matemática também pela Universidade Federal de Rondônia (2014). Atualmente é Professora do Magistério Superior na Universidade Federal de Rondônia e participa do Grupo de Pesquisa História da Educação Matemática em Pesquisa (HEMEP).
Thiago Pedro Pinto, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS; Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática do INMA; Graduado em Licenciatura em Matemática pela Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de Jacarezinho - PR (2005) atual UENP. Mestre em Educação Matemática pela UNESP - Rio Claro (2009). Doutor em Educação para a Ciência UNESP - Bauru (2013). Desde 2006 está vinculado ao GHOEM, Grupo de História Oral e Educação Matemática. Desde 2011 está vinculado ao Grupo História da Educação Matemática em Pesquisa (HEMEP).

Referências

MIGUEL, Antonio. A Terapia Gramatical-Desconstrucionista como Atitude de Pesquisa (Historiográfica) em Educação (Matemática). Perspectivas em Educação Matemática, V. 8, Número Temático, p. 607-647, 2015a.

MIGUEL, Antonio. Uma Encenação Terapêutica da Terapia Wittgensteiniana na Condução de Pesquisas Historiográficas. Revista de História da Educação Matemática, Ano 1, N. 1, p. 203-255, 2015b.

VILELA, Denise Silva. Usos e jogos de linguagem na matemática: diálogo entre Filosofia e Educação Matemática. São Paulo (SP): Editora Livraria da Física, 2013.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. São Paulo: Nova Cultural, 1979.

Publicado
2019-09-15